sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Canibais




Por Mary Zaidan (*)

A presidente Dilma Rousseff não é mais a mesma. E não será até outubro de 2014. Os berros e a permanente irritação deram lugar a brincadeirinhas pretensamente bem-humoradas. Descontração ao invés da ira, sorrisos e beijocas e não mais a cara fechada, o rosto sisudo.

A transformação de fel em mel, um dos mandamentos do evangelho do marqueteiro João Santana, que Dilma professa sem pestanejar, já estaria produzindo efeito. Dilma readquiriu pelo menos parte da musculatura que lhe mantém na dianteira do jogo eleitoral, mesmo diante do baque que a união Marina Silva-Eduardo Campos provocou no ânimo de sua turma.

A ordem é ser boazinha, simpática, o que, no caso dela, há de se reconhecer, é uma prova de fogo. E agir em todas as frentes: inaugurações, programas populares de rádio e TV, entrevistas para a imprensa regional, redes sociais.

Voltou frenética ao twitter, o mesmo que descartara depois de eleita. Foram 1.067 dias sem postagem alguma. Agora são no mínimo 10 por dia, às vezes 15. Só perde para a presidente da Argentina Cristina Kirchner, uma viciada na rede. Aliás, é impressionante como o twitter de Dilma é parecido com o da vizinha. Ambas utilizam a mesma linguagem e estilo, os mesmos truques de marquetagem. Quase iguais.

Candidata em tempo integral, Dilma usa e abusa de sua vantagem sobre os concorrentes. Por ser presidente, tudo o que faz ou fala repercute, vira notícia. Come todos, por todos os lados.

Ainda que se expresse em dilmês - língua de difícil compreensão, que vira piada fácil -, seu nome está sempre em evidência. Ocupa espaços que os demais não têm e que só terão depois da Copa do Mundo.

Governantes candidatos à reeleição saem sempre na frente. Isso vale para governadores, prefeitos, gente que tem a caneta como aliada. Inauguram-se obras inacabadas, repetem-se promessas não cumpridas, rufam-se tambores, reiteram-se mentiras.

Mas na Presidência da República a dianteira é inigualável, quase inalcançável. Tudo é permitido e o que não é fica sendo, como bem demonstrou o ex-presidente Lula nas sucessivas campanhas antecipadas que patrocinou.

Faz-se o diabo.

É nessa concorrência desleal que reside o favoritismo de Dilma. É nela que o PT se apoia. Bem longe da “antropofagia dos anões”, é nela que Santana aposta. Hoje, esforça-se para fazer crescer pontos nas pesquisas para que Dilma não acabe vítima do canibalismo dos aliados, prática já ativa em alguns palanques regionais. Nessa seara, vence quem domina a arte da política. E Eduardo Campos já mostrou ao PT do que é capaz.

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(*) Publicado no Blog do Noblat em 20.10.2013. Começando do final, eu não sou tão otimista quanto a Mary Zaidan em relação à habilidade política do Eduardo Campos. Mas, quem sabe ele pode me surpreender e eu esteja em 2014 calçando 40? Quanto ao restante do texto é uma descrição fiel de um crime eleitoral (campanha antecipada) perpetrado mais de uma vez pelo ex-apedeuta-mor e seus asseclas, e agora de forma irônica porque só paga R$ 5.000 por deslize criminoso.

As aparições de Dilma estão se tornando ridículas, não só pelo dilmês utilizado e sim porque ela não tem o que falar de bom para ninguém. Como disse a Marina Silva, seu governo foi um grande retrocesso. E daqui para frente, vai ser só “marquetagem”. Este termo para mim é constrangedor. Quando uma atividade necessita do uso dos “marqueteiros”caímos num conto do vigário, na maioria das vezes. Ora, dizem, mas, hoje todo mundo usa e é um hábito consagrado. Eu digo, é verdade e infelizmente.

Hoje quando votamos, não sabemos se votamos num careca ou num cabeludo, porque este povo faz até cabelo nascer em ovo. Do mesmo jeito que se vendeu a Dilma como faxineira durona no inicio do governo, estão tentando vender agora a Dilminha paz e amor. Se uma pesquisa qualitativa disser que o povo não gostou do bigode de Lula, amanhã ele amanhecerá de cara raspada. Se disser que não gosta dos olhos azuis de Eduardo amanhã ele estará usando lentes de contatos para ficar com os olhos negros.


Como política, eu cada dia me torno menos política. E já sei que para me eleger vereadora em Bom Conselho em 2016, terei que entrar no programa Medida Certa do Fantástico. Isto depois que pararem de me ameaçara e assediar em minha própria terra. Não sei se encontrarei um marqueteiro para lidar com tudo isto.(LP)

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