quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

"Salve Jorge" e os militares





Semana passada o Roberto Almeida onde comento assiduamente publicou uma carta de um coronel da reserva sobre o que ele achava da novela da Globo, Salve Jorge. Eu pensava em citar apenas o link para o blog do Roberto, mas, como citação não aumenta minha cota de prolixidade eu a cito aqui (copiando e colando de lá):

“Sou Coronel de Artilharia da turma de 1978 e estou na reserva desde 31 de dezembro de 2009, desde então trabalhando no mundo corporativo.

Estou longe de ser mais um membro da reserva enfurecida, que vê sombras onde não existem, mas não poderia deixar de expressar minha indignação com a imagem que estão delineando da nossa Força, com episódios cada vez mais estarrecedores envolvendo personagens que representam a oficialidade do Exército Brasileiro, num posto que se pressupõe maturidade, equilíbrio e comprometimento com nossos valores mais caros, cultuados desde os bancos acadêmicos (capitães de cavalaria, no nosso exército, só saem da AMAN).

As demonstrações de deslealdade, desequilíbrio, petulância e falta de ação de comando, dão aos expectadores a ideia que o nosso Exército é aquele saco de gatos, a que ficou reduzido o brioso e tradicional Regimento Andrade Neves.

Vivo sendo questionado por civis de minhas relações, a perguntar se isso acontece dentro dos quartéis e sistematicamente tenho que explicar que essa não é a expressão da verdade (penso que esse passivo deva cair no colo de inúmeros militares da reserva e da ativa).

De qualquer maneira, nem sempre teremos um Coronel R1 disponível para explicar ao público externo que aqueles capitães e aquele Coronel Comandante, que não conhece sua oficialidade, são obra de uma orquestração muito sutil para reduzir o EB a expressão mais simples e nos nivelar por baixo, como se os valores que cultuamos e fazemos questão de apregoar fossem mero embuste.

Francamente... a ideia de fazer propaganda da Força Terrestre na novela das 21:00 Hs, da Rede Globo, foi no mínimo ingênua e a concordância em utilização de instalações de uma unidade tradicional de Cavalaria para aquela patifaria, beira a irresponsabilidade.

Um exército que se preza (e é o nosso caso), não necessita andar na mídia fazendo parte de historietas, a troco de migalhas, de luzes ou da simpatia da mídia.

Decisões como esta atingem a todos nós, da ativa e da reserva e põe em dúvida a credibilidade de uma instituição secular, que desde o nascimento da nacionalidade está presente nos momentos mais críticos da história do Brasil, preservando, defendendo e cultuando valores que nem de longe são mostrados naquela novelinha de quinta categoria.

Marcelo Antonio Neves - Cel Art R1 - Idt 026074881-9”

O Roberto ainda dá um pitaco que pode ser visto na postagem original, aqui. Lá fiz um comentário que aqui reproduzo in totum pois penso ainda esta certa quanto ao assunto. Leiam-no e eu voltarei de novo lá embaixo para falar mais algumas coisa iguais ou complementares:

“Quando se trata de criticar a Globo o Roberto defende até nossas forças armadas que foram, não esqueçam, responsáveis por mais de 20 anos de ditadura no Brasil. O coronel Marcelo, Antônio ou Neves deveria, era botar a viola ou o canhão no saco (que Deus me perdoe) e verificar que os militares também são seres humanos e que há deles de diversos tipos, inclusive na instituição militar.

O que mais me intriga é que estes seres que tanto falam de novelas não arredam o pé da TV e estão sempre vendo a Globo. Agora que a o Lula diz que tirou 16 milhões da miséria e criou a Classe C-L (Classe C do Lula), e que a única diferença da Classe D-L (Classe D do Lula) é que pode comprar uma TV em 24 prestações mensais, está podendo ver as novelas, elas não podem apresentar militares com personagens que, como sempre nas novelas, são caricatos. Quando era o Tufão ninguém falava nada. Agora, que é o Coronel Nunes, então é um agravo à instituição militar. Me poupe!

A nota do blogueiro Roberto chega a ser pior do que a carta do Coronel Nunes, digo, Neves. É como se no exército não existissem pessoas como o Capitão Téo ou o Capitão Élcio, um romântico e outro mau caráter. Há de ambos os tipos como qualquer instituição humana. Como na polícia civil há delegados e delegadas tão burras como a delegada da qual não me lembro o nome agora.

O que não se vê é que a novela já é um gênero literário no Brasil com suas virtudes e defeitos. Eu gostaria de ver era o Coronel Nunes num folheto de Cordel, ou num duelo de repentistas. Talvez, os intelectualóides adorassem. Mas, como a novela é o “ópio do povo” brasileiro e é a Globo que tem quase o monopólio de audiência do gênero. Todos querem tirar uma casquinha.

Eu não estou gostando da trama da Glória Perez por outros motivos. Por exemplo, faz propaganda das UPP de forma uma que o Coronel Nunes, digo, Neves, deveria agradecer. Quando se sabe que a realidade não é bem aquela que ela dá ênfase. E também porque os personagens para serem entendidos pela massa (isto faz parte do gênero) estão caricatos em demasia, até para o gênero. Aquela trama das crianças contrabandeadas chega a ser risível, pela irrealidade.

Eu tenho um filho que diz ser militar porque fez o CPOR certa época e diz que está gostando da novela, não vendo nada demais. E tenho alguns amigos de mais idade que são militares e que acham até que é bom mostrar que “os brutos também amam”, e eu diria também roubam, torturam e matam. No entanto, não devemos confundir uma instituição com pessoas que as compõem. Eu não gosto do Lewandowhisky, mas, isto não desmerece o STF. Alguém pode não gostar da delegada Heloisa (lembrei o nome), mas, ela não desmerece por si só a Polícia Civil.

O que penso é que o Coronel Nunes, digo, Neves está é tentando encher a bola do Exército, que vem murcha (e deve ficar mesmo até que precisemos brigar com a Venezuela) há algum tempo, por falta de verba em todos os quartéis. Colocar esta instituição como polícia no morro do alemão é que é o verdadeiro erro de nossa combalida segurança, mas, disto nem a Globo nem a Glória Perez tem culpa.

Lucinha Peixoto (Blog da Lucinha Peixoto)”

Todos que me leem sabem que gosto muito de novelas e que a Globo hoje monopoliza o setor porque conseguiu juntar todos os melhores componentes deste gênero artístico/literário moderno no Brasil. E jamais poderia deixar em branco a oportunidade de falar sobre isto.

Primeiro, porque a novela da Glória Perez não chega nem de perto à anterior (Avenida Brasil) e nem mesmo da Guerra do Sexos, mas traz alguns temas interessantes. O que o Coronel Art R1 (perguntei a meu filho o significado disto ele disse que é Artilheiro e o R1 quer dizer que é primeira classe e ele é R2 pois fez o CPOR), ficou danado ao se ver retratado nas telas, e com um personagem que tem o seu mesmo posto, e que é Cavaleiro (será isto mesmo quem é da cavalaria?) e não foi nada cavalheiro com a rede Globo.

‘Um exército que se preza (e é o nosso caso), não necessita andar na mídia fazendo parte de historietas, a troco de migalhas, de luzes ou da simpatia da mídia.” Diz o coronel iradérrimo. Eu já diria que um exército que se preza não fica se importando com picuinhas teatrais, televisivas ou cinematográficas, que o representa. Penso que, pelo que aconteceu há pouco tempo, quando o exército encabeçou a ditatura mililtar, o coronel está um pouco inseguro quanto à natureza de sua instituição. Quem já viu filmes como MASH retratando o exército americano não deu nem tempo de pensar que naquela instituição poderia muito bem haver personagens como aquele retratado no filme, como existem militares que agem como os personagens da novela das 9.

Ele talvez não seja da mesma facção que criticou a forma como se colocava o exército, numa trama noveleira (até vista pelo Roberto, e por mim apenas para verificar as cenas de violência e deixá-la de lado) numa outra emissora, retratando as torturas. Seriam ali “historietas” ou história. Eu diria: apenas novelas.

Não quero me alongar muito pois meus leitores já se alinharam ao meu novo estilo de uma mulher não prolixa. Só queria arrematar dizendo que não vi nenhum denegrecimento do exército na novela. O coronel deveria era assistir a novela, como bom noveleiro que deve ser, e pensar que o mundo mudou no Brasil e o Exército hoje é comandada por uma mulher, que também deve lacrimejar com alguma das tramas da Globo. Dizem que o Lula chora chora copiosamente. Salve Jorge!

P.S.: Já estava terminando o texto acima quando vi no Fantástico da Globo algumas mulheres delegadas dando depoimentos e sem reclamar nada da novela. A carta do Coronel, penso eu, vai ficar como "coisas de coronel", lembrando do Coronel Zé Abilio.

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