sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Rastros de crime





Por Mary Zaidan (*)

Vinte e cinco defesas depois, todas apoiadas em pontos quase idênticos, os advogados dos réus do mensalão conseguiram algo inusitado: produzir mais dúvidas. Isso mesmo. No afã de tentar inocentar seus clientes, alguns deles se enrolaram e foram imprimindo novos rastros.

Caso típico foi o da defesa do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, que se embananou na resposta ao ministro relator Joaquim Barbosa quanto ao dinheiro que trafegou entre o BB, a Visanet, o publicitário Marcos Valério e o esquema de compra de apoio político. Isso sem falar no pacote com R$ 326,6 mil em dinheiro vivo que Pizzolato recebeu de Valério e repassou a um emissário do PT sem saber, segundo o advogado, que o recheio do embrulho era bufunfa graúda.

Possivelmente para não tripudiar, Barbosa não incluiu nas perguntas ao defensor coisas singelas como o motivo que leva um diretor do BB, um servidor público, a se portar como pombo correio do PT. Ou como um pacote tão farto entra e sai da sede do BB sem que ninguém se dê conta do conteúdo, nem mesmo a segurança.

É carimbar a tarja de otário na testa de cada ministro da Suprema Corte do país - e de cada um de nós.

Nas falas dos defensores os mortos brilham. Ninguém do Banco Rural fez nada. Todos os empréstimos são da lavra de José Augusto Dumont, ex-vice-presidente do banco, morto em 2004. Mas se os empréstimos eram lícitos, como quer fazer crer a defesa, porque jogá-los sobre o morto?

Coube a outro morto, o deputado José Janene, ex-tesoureiro do PP, toda a culpa pelos acordos financeiros com o PT, pelos quais o deputado Pedro Henry é acusado. Observe-se que o advogado não negou a transação, só a autoria.

Já a alegação unânime dos defensores de que a fase de instrução criminal, com garantia ao contraditório, tem mais valor do que a do inquérito ou a de depoimentos em CPIs, ainda que fundamentada na Constituição, fica quase cômica. Esses mesmos advogados orientam seus clientes a se calarem em CPIs. Vide o conselho dado pelo ex-ministro Marcio Thomaz Bastos ao seu ex-cliente Carlinhos Cachoeira. Se não vale nada ou quase nada, porque a mudez em CPIs?

Na defesa reina a tese de Thomaz Bastos de que o mensalão não existiu e que tudo não passou de caixa 2. Como se crime eleitoral, e ainda por cima com dinheiro público, não fosse crime.

De quebra, na semana que passou o procurador-geral da República Roberto Gurgel foi apontado como irresponsável; incompetente para exercer a tarefa para qual foi indicado por duas vezes, primeiro por Lula e depois por Dilma Rousseff.

Por mais que o PT e os seus esperneiem, Gurgel já deu provas do acerto das escolhas.

----------
(*) Publicado no Blog do Noblat em 12.08.2012. A análise da Mary para o julgamento do mensalão está perfeita. Eu não tenho tempo de ficar vendo o julgamento pela TV e Blogs, mas estou por dentro, lendo os resumos abalizados. Aliás, para quem gosta de política e fica alheio a este julgamento, “bom sujeito não é, ou e ruim da cabeça ou doente do pé”. E Lula declarou que não tem tempo para ver, o que comprova minha tese.

E já esta semana vi até no Jornal Nacional, além dos blogs sites e quejandos, que o advogado do Roberto Jefferson espinafrou o Procurador Geral da República. Só não o chamou de “mestre de açúcar”, como dizia meu pai quando alguém xingava fortemente alguém. Segundo ele, o verdadeiro mentor e ordenador do mensalão foi o Lula. E, venhamos e convenhamos, é muito difícil que não seja. Enquanto o PGR botou o rabo entre as pernas e não incluiu o apedeuta no processo.

Ainda não me convenceu aquele Lula choroso, gozando das delícias parisienses, dizendo que Caixa 2 todos faziam e que foi isto o que aconteceu. Num país sério, ele nem voltaria ao país se não quisesse ser preso. Mas, ainda não nos livramos do que o De Gaulle falou sobre nós. E nem mesmo a condenação dos réus neste julgamento, nos fará esquecer, se um dia, na futura história deste país, elegermos o Lula para alguma coisa. E alguém duvida que isto aconteça?

Estou fazendo “das tripas coração” para acompanhar e comentar todos estes lances deste julgamento e suas consequências, embora num ritmo muito menor aqui no blog, do que eu gostaria, por motivos pessoais e intransferíveis. Espero que eles não atrapalhem minha missão em ajudar para que um dia possamos dizer que o De Gaulle estava errado. (LP)

3 comentários:

  1. O Lula estar coberto de razão: foi caixa 2. Até hoje eu só vi um político não aceitar caixa 2 em hipotese nenhuma. Ele tá logo ali, em Bom Conselho: DANILLO GODOY.

    ResponderExcluir
  2. Bom o artigo e o comentário. Lula é um sujeito muito inteligente, nunca aceitou ser desinformado, muito pelo contrário. Sempre foi um curioso, querendo se meter em tudo. Só um idiota acha que ele não sabia de tudo. E que de fato participou. Porém os $talinistas amigos seus, nunca abrirão a boca, afinal, ganharão o que com isso? São uns ladrões, ideologizados , digamos assim. Uns tipos de Robbin Rood das esquerdas, roubando sob o pretexto de estar melhorando a vida dos pobres também. Já que fazem isso, por que não meter a mão também? Rafael Brasil.

    ResponderExcluir
  3. O curioso é a semelhança com a caso Elisa Samudio: uma gangue se une para agir em prol de outro.
    No caso Elisa, Macarrão e cia deram cabo de uma mulher para defender o goleiro Bruno.
    No mensalão, Zé Dirceu e cia levaram a cabo um esquema de corrupção para beneficiar Lula.
    A diferença é no resultado.
    Bruno e os seus estão presos sem jamais terem encontrado um corpo, enquanto Lula nem sequer foi indiciado.

    ResponderExcluir