sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Menino tem "pipiu" e menina tem "xoxó"




Outro dia fui ao bom blog do Hadriel Ferreira, que ele chamou de Espaços de Bobagens, mas, lá, de bobagens mesmo só os meus comentários, e encontrei o seguinte texto, que pode ser visto aqui com as ênfases que não estão abaixo:

“Essa é daquelas cabeludices brasileiras:

Uma menina de dez anos entra no banheiro feminino de uma pizzaria e se assusta. Volta para sua mãe e cochicha:

-“Tem um homem lá dentro do banheiro! Ele tá vestido de mulher!”

A mãe não tem dúvida: numa reação natural que qualquer outra mãe teria, reclama para o dono da pizzaria. O dono, em atenção à mãe e à segurança dela e da sua filha, pede para que o homem vestido de mulher não volte mais ao banheiro feminino. Apesar da bizarrice e do surrealismo, a negociação de nada adianta e o caso vai parar na Secretaria de Justiça paulista, que telefonou não para a mãe e filha agredidas (não deixa de ser uma agressão!), mas para o bissexual Laerte Coutinho, dizendo que a pizzaria violou a lei estadual 10.948/2001, sobre discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero.

Esse é um claro fruto do movimento gayzista que torna-se mais influente a cada dia. Agora, a pizzaria poderá ser multada e prejudicada por forças a serviço do movimento gay. Laerte, que é cartunista da Folha (e dos bons, diga-se!), está determinado a levar adiante esse fato contra a pizzaria, como lição para todas as meninas do Brasil que encontrarem um gay no banheiro das mulheres.

Laerte é adepto do tal crossdressing, a inversão das vestimentas, e agora quer porque quer ter o direito de usar banheiro feminino. E a lei o ampara nisso, segundo os progressistas e alinhados com os 'direitos humanos'.

Ah, Laerte é assumidamente bissexual.

Disse ele, dia desses, no Altas Horas, da Globo:

-"É uma questão de contexto, de como estou no dia. Não quero nem ter uma regra nem abrir mão do meu direito".

Direito, Laerte? E o direito das mulheres a sua privacidade? Você tem uma piroca e quer poder usar o banheiro delas? Imaginem a situação: uma mulher está no banheiro e quer puxar um papo com outra mulher sobre TPM. A outra vai responder que fica assim e assado e tal. Um bate-papo típico de mulher! Daí, vem alguém vestido de mulher com características visuais de homem a entrar na conversa. Imagine a situação constrangedora para todo mundo no local. Ou uma mulher vestida de homem, entrar em um papo de homens, que só eles têm a possibilidade de compreender...

Que é isso, Brasil? Respeito gays, lésbicas, travestis e transexuais.  Tenho até uns exemplares como parentes e amigos. Não deixam de ser pessoas inteligentes e capazes, mas, sério... o que Laerte vai solicitar na Justiça é algo absurdo, como disse, surreal. Como também será um absurdo se o restaurante perder a ação. Porque isso implica na perda de direito de todas as mulheres para alguém que "escolhe" ser o que quer no dia. Ou seja, opta. A mulher no banheiro estava no direito dela.

Laerte também pode criar escola com essa sua busca por 'direitos': aos tarados de plantão, bastará que se vistam de mulher e terão todo o acesso necessário às suas sandices, concordam? O Brasil tornou-se perigoso: se há uma contenda com um negro, é racismo; quando envolve um homossexual, o holofote fica só para ele e já é de se esperar qual das partes sairá como vitoriosa. A partir de agora, poderemos ter de aguentar travesti em banheiro feminino...

Lucinha Peixoto, essa genial mulher das papacaças, como você vê tudo isso? O que pensam as mulheres de verdade sobre esse episódio?”

Eu sei que meu nome foi citado porque além de ter amigos gays, como o Hadriel, eu sou uma defensora do respeito que se deve ter por todas as minorias, tendo escrito vários textos aqui e alhures e defendido principalmente o movimento gay de minha cidade, que me decepcionou um pouco por não ter saído em passeata no Encontro do Bom-conselhenses a que eu chamei de Papacagay.

Eu digo que nem mesmo os gays me entendem certas horas, pois ao mesmo tempo que os defendo eu restrinjo certos aspectos de sua defesa que eles acham importantes e eu não. O exemplo maior é a tentativa do movimento de criminalizar as ações contra homossexuais e para isto modificar nossos códigos e leis.

Eu sou uma espécie de social democrata um pouco à direita, com uma perna no liberalismo. Penso que devemos usar o Estado o mínimo possível para não sermos roubados ao máximo. E não sei para que criar leis dizendo que é crime bater no Crô. É crime bater em qualquer pessoa nas mesmas condições. Eu não sou contra a Lei Afonso Arinos, mas penso que ela é inútil e se não houvesse, nós não seríamos nem mais nem menos racistas.

Mas voltemos ao caso exposto pelo Hadriel, que eu penso até ter visto de soslaio na TV, inclusive achando o indivíduo um cara que é feio como homem ou como mulher. Eu não conheço a Lei que ele alega existir em São Paulo que proíbe a discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero.

Só genericamente comentando, se a lei existe e se aplica ao caso dele, deve ser aplicada assim como devem ser aplicadas as leis como discriminação racial, mesmo que eu discorde de que legisladores tenha perdido tempo em confeccioná-las. Portanto, caro Hadriel, não acho absurdo o restaurante perder a ação, pois o que está se fazendo é apenas cumprir a lei. Penso que você foi tão liberal em seu comentário que esqueceu que as leis são para serem cumpridas, e quando se acha um absurdo que isto seja feito, somos sempre contra a retomada de posse do Pinheirinho, e dane-se o direito de propriedade (mas esta é outra discussão).

E isto serve para uma crítica à atitude legiferante que impera no Brasil, em tudo. Suponha que não houvesse esta lei, o que poderia o gajo que vestiu uma roupa de mulher e tentou entrar num banheiro feminino. O que poderia ele dizer à mãe da menina que ficou chocada?

Tudo passaria ao plano dos bons e velhos costumes e da cultura imperante em nosso meio, que é de um atraso atroz. O choque haveria, mas, não se tomaria o tempo da justiça e ficaria sob a responsabilidade do dono uma ação no caso, fazendo justiça com as próprias mãos, e que sabe fazendo o que a lei poderia mandar no futuro. Eu penso que as leis e o Direito devem andar a reboque da sociedade e não ao contrário. Pois, na maioria da vezes quando elas vem na frente são inúteis.

Eu lembro que vi um filme, e lembro porque já passou na TV várias vezes, chamado “Kindengarten cop” que em português foi chamado de “Um policial no jardim de infância” que era com Arnold Schwarzenegger (fui na internet ver como se escreve), e quando alguém mandava os alunos falar, havia um menininha que sempre repetia:

- Menino tem pênis e menina tem vagina!

E sempre foi motivo de riso lá em casa. Por que? Porque nossas crianças nascem sem saber a diferença entre estas duas coisas. Tenho certeza que esta menina do jardim da infância quando crescer não se aterrorizará com alguém fazendo xixi com um pênis ao invés de com uma vagina. Na minha época, lá em Bom Conselho, nem isto eu sabia. Se a minha mãe ia ter menino, eu ficava era na Praça da Bandeira esperando a cegonha, que nunca vi, lhes confesso.

A não discriminação de gênero não é só um preceito das leis em São Paulo, não vou pesquisar mas penso ser de natureza constitucional ou mesmo da ainda inaplicável Declaração de Direitos da ONU (que é tão desrespeitada pelos amigos cubanos e brasileiros simpatizantes em relação ao direito de ir e vir da nossa colega blogueira Yoanes Sanchez, inclusive nossa presidenta que parece mais uma barata tonta, por lá). O grande problema é que se leva um tempo para que nossos costumes se adaptem e se modernizem.

Pelo título de sua postagem você tem medo que os tarados tomem de assaltos os banheiros públicos para ouvirem conversas sobre TPM ou bulirem com as mulheres. Eu até reconheço sua preocupação, que me soa um pouco machista (nem peço desculpas pois também sou), em pensar que as mulheres são estas ingênuas que desmaiam pela presença de um pênis. Hoje, uma grande maioria parte para cima Hadriel, igualzinho vocês faziam e ainda fazem quando vêem uma vagina.

Suponha a situação inversa. Uma mulher se vestir de homem, e até botar um bigode postiço, entrar no banheiro de homens e fazer xixi sentada para não molhar os pés. Será que o menininho que via a cena sairia horrorizado?  Talvez. Mas, será que seu pai iria reclamar ao dono do bar ou entraria no banheiro para ver a cena e cair num papo de homem sobre tamanho de pênis? Será que a mulher necessitaria de ir á justiça pelo seu direito de usar o banheiro masculino? Tenho certeza que não porque vocês estariam todos esperando por ela da próxima vez, sem nem falar com o dono do estabelecimento. As mulheres são mesmo discriminadas.

Eu não estou dizendo que vá orientar meus filhos a trocar placas de banheiros para ver o sexo oposto, mas, se há uma tendência social de discriminar entre sexo e entre orientações sexuais, não há muito jeito, do que o Estado prover, além de banheiros para homens e mulheres, também o fazer para travestis de ambos os sexos. Ao invés de dois, deveríamos ter quatro tipos de banheiros, com já existiu nos Estados Unidos, e talvez aqui, banheiros para mulheres negras, mulheres brancas, homens negros e homens brancos. Não sei se existiam também para amarelos, mas isto é possível. Este é o custo da discriminação por não termos ensinados nossos filhos o que é um “pipiu” e o que é um “xoxó” e que não é uma visão tão dantesca assim.

Tanto que é melhor que a partir de nossa casa ensinarmos nossos filhos, como eu estou fazendo com os meus netos que : “Menino tem pênis e menina tem vagina”. Só que eu uso uma linguagem mais infantil, como a usada acima, para que na escola ele não seja castigado: “Menino tem pipiu e menina tem xoxó”. Penso que assim economizaremos banheiros e sem a intervenção do Estado. Eu não sei se o faria se tivesse netas e não netos, como não fiz com nenhum dos filhos.

É, Hadriel, não se apoquente, pois mulheres da minha época ainda tem um bom ranço machista. Eu pelo menos tento me livrar. De qualquer forma tudo isto é passível de discussão e foi um bom tema que você levantou e obrigada pelo “genial”. São seus olhos!

3 comentários:

  1. Pobre/rico,branco/negro,crente/ateu,homo/hétero...

    O convívio entre os diferentes depende mais da consciência e respeito às diferenças que da força da Lei.

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  2. Sabia que você faria um texto muito bom sobre esse assunto. E o fez com grande competência.

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  3. Assíduos leitores, antes de iniciar nosso comentário queria parabenizá-los pelo nível cultural e sociológico como tem sido encarado o tema. Aduz nossa carta maior, a constituição federal, que devemos tratar os desiguais de forma também desigual. Em nenhum momento há indicativo em nosso ordenamento jurídico que leve a uma interpretação diversa da já acolhida pelo nosso Direito pátrio. Neste sentido, entendo, que cabe a quem se julgue diferente arcar com o ônus de sua escolha. Entendo ainda, que a ação ajuizada por este cidadão não prosperará e certamente será arquivada por falta de fundamento jurídico. No entanto, está perdendo uma grande oportunidade de obrigar aquele comerciante a ceder um espaço adequado aos seus pares (gays). Ai sim, seria mais uma vitória na escalada pelos seus direitos.

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