quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A nova classe média brasileira. Da Vilma à Neili




A Vilma minha faxineira, imaginem vocês poderia ser classificada dentro da nova classe média brasileira. Ela tem TV, geladeira, DVD, som e os filhos estão todos na escola. Juntos, seu companheiro e ela ganham uns R$ 2.000,00. Paga aluguel e recebe o Bolsa Família.

Eu já apresentei alguns casos aqui que se relacionavam com a vida dela, e tenho todo respeito por sua luta pela sobrevivência e até fico feliz em dizer que a Vilma hoje é classe média como eu. Em termos de renda monetária, eu e meu velho não ganhamos muito mais do que isto e passamos apertado, e muito mais apertado seríamos se os nossos filhos também não colaborassem. Então, por que eu não me inscrevo no Bolsa Família?

É porque simplesmente somos de distintas classes médias. Exagerando na imagem, eu diria que eu sou classe média de antes do Lula, e a Vilma é classe média de depois do Lula. E classe média de antes do Lula, mesmo quase ganhando a mesma coisa da de depois dele, fica com vergonha de entrar na fila para se inscrever para o programa. Ela fica achando que aquela ajuda é uma esmola e pode viciar o cidadão, porque ela está ganhando sem trabalhar. E sabe que seria pecado tirar o pão da boca da classe média de depois do Lula.

Mas a diferença não é só esta. A classe média de antes, hoje, tem casa própria, mesmo que tenha sido comprada pelo  BNH, mas tínhamos que pagar, o total. Ela gostava de estudar e de colocar o filho na escola, para não passar os perrengues que ela passou. Ela se informava e votava com consciência, em pessoas que não lhe cobravam para votar nelas por esmolas dadas, nem vinham com enganação de que éramos incapazes para o trabalho ou que os ricos só servem para nos explorar.

Eu, certa época, já fiz até entrevistas informais com a Vilma e tentei transcrevê-las aqui no Blog, cometendo até um pecado pois sei que jamais ela irá ler ( aqui) o que eu disse, pois não sabe o que é internet, sites, mídia eletrônica e blogs. E se falarmos em leitura, ela não vai muito longe.

Anteontem fuçando pelos blogs, topei com uma entrevista feita pelo Augusto Nunes, para o site da revista Veja, que quando a vi, se a entrevistada não diferisse de forma radical, em termos de fisionomia, por exemplo, eu apenas a tivesse ouvido, eu diria que ele estaria entrevistando a Vilma.

Mas não era a Vilma. A entrevistada era Neili dos Santos Ferreira, nascida na Bahia, com 39 anos e dois filhos. Vilma é um pouco mais velha, tem três filhas e fez até o quarto primário, isto é, ainda poderia ser presidenta da república e ainda sobrava, comparando-a com Lula. Eu reproduzo aqui uma conversa (aqui) com ela que transcrevi num postagem para depois vocês compararem com a entrevista da Neili.

“- O que, D. Lucinha!?

- Deixa prá lá Vilma, apenas pensei alto e usei meu espírito jocoso.

- O que,  D. Lucinha!?

- Ah! É verdade Vilma o Lula tá com câncer, e tem cura.

- Tem cura mesmo?! Eu soube que um tio da Iracema, minha vizinha sabe, teve uma coisa dessa, levaram ele prá Restauração e quando abriram a barriga dele, já era. Fecharam e mandaram de volta. Não durou 3 meses.

- Isto depende Vilma. Depende do estágio, ou, de como a doença já progrediu. Quando a pessoa não tem como saber que está com a doença e só vai ao médico na fase final, o caso fica mais sério. No caso de Lula dizem que estava numa fase média. Pode ter cura ou pode não ter. Mas, não espere que saibamos disso, até a cura ou até a morte. Político é como artista, vive do seu público e doença séria só é anunciada para encher teatro. Vamos ver o que ocorrerá.

- Mas, ele é um homem tão bom, paga em dia minha bolsa família, e agora posso até comprar lençóis novos, pois aqueles americanos contaminados eu não uso mais.

- Vilma, quem paga o seu bolsa família não é o Lula. Ele nem é mais presidente da república, agora é a Dilma.

- Mas não é tudo a mesma coisa D. Lucinha?!

- Talvez seja Vilma. Mas, mesmo assim quem paga seu bolsa família somos todos nós, que pagamos impostos.

- Pois o seu Gerson, que é do orçamento participativo, diz que é o Lula que paga, e que quem repassa o dinheiro é o João da Costa.

Veja agora as entrevistas com a Neili e vejam se chegam a mesma minha conclusão de que a classe média pós-Lula é toda igual, do Oiapoque ao Chui, e de Nova Descoberta a São Paulo, tudo cabendo dentro do Bolsa Família.



Vocês ainda não tinham explicação para a popularidade da presidenta? São os 90 milhões de Vilmas e Neilis, da nova classe média. Eu mesma que tento ser correta mas, nem sempre posso ser “politicamente correta”, não gostaria de pertencer à mesma classe média com que sonha a presidenta Dilma e sonhou o presidente Lula, apesar de estar feliz com o progresso de ambas as entrevistadas. Eu me permito sonhar um pouco mais. 

2 comentários:

  1. PARA SE CONSTATAR COM UMA MAIOR PRECISÃO, BASTA ENTRAR EM UM RESTAURANTE FREQUENTADO PELA CLASSE MÉDIA PARA PERCEBER ESSE FENÔMENO: AQUELES QUE ESTÃO SENTADOS VOTAM NULO OU EM BRANCO, E OS QUE ESTÃO DE PÉ E FAZENDO O SERVIÇO VOTARAM NO IGNORANTÃO DE CAETÉS OU ENTÃO NA MAIS NOVA AMIGA DE FIDEL CASTRO...

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  2. Entendo o porquê de o PT explorar tanto a pobreza (ops! 'classe média'). Ela dá votos, sustenta a gangue. Se acham a educação cara, vejam o quanto custa a ignorância. Muito bom o seu texto! Parabéns!

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