quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Novela também é Ciência (I)




Hoje, lendo um jornal da capital, de ontem, como sempre, eu tive o prazer de ler um texto do Max Miliano Melo com o título: “O Brasil das novelas”. Tive a grata surpresa de ver as novelas elevadas ao ser merecido lugar, como um fenômeno artístico de massas e que muitos ainda discutem sua importância ao ponto de difundir-se a hipócrita noção de que quem gosta de novela é ignorante, pobre e pouco dotado intelectualmente.

Esta mesma crítica eu já ouvia quanto à TV, e ainda tem gente, com um pouco mais de idade, que diz ser a televisão algo de menor importância e que não perde tempo em vê-la. Quando muito, vêem TV a cabo, como se fosse melhor do que a TV aberta. E quando se fala em novela, é tida sempre como coisa de mulher, o que demonstra que nosso cérebro feminino realmente é mais evoluído, apesar de que algumas colegas de gênero darem muita munição aos homens para propagar este mito como verdade. Mas, vamos ao texto, que inicia assim:

Com a redemocratização, novelas como Roque Santeiro começaram a tratar de política. Em 1950, estreou no Brasil Sua vida me pertence, a primeira telenovela a ser exibida em terras tupiniquins. De lá pra cá, centenas de folhetins televisivos já foram transmitidos - e muitos, reprisados -, emocionando e divertindo milhões de brasileiros que acompanham as tramas diárias em seus televisores. As telenovelas ganharam tanta importância que extrapolaram o limite do entretenimento e viraram objeto de estudo da ciência. Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), divulgada no mês passado, mostrou que, apesar de muitas vezes serem encaradas como fúteis e frívolas, as novelas desempenharam um papel importante na história recente do Brasil. Nos últimos 40 anos - quando o gênero se popularizou enormemente -, alguns dos acontecimentos mais importantes do país foram retratados nas narrativas folhetinescas da tevê.”

Caras adversárias, não pensem que eu vi “Sua Vida me Pertence”, pois eu nem era nascida ainda. Mas, Roque Santeiro eu já vi várias vezes. Lembro, que a primeira versão foi censurada pelo governo militar e depois ela voltou já com a abertura política. Como faz mal a censura! Eu que o diga, pois já sofri muito isto na pele. Roque Santeiro, dizem, teve 100% de IBOPE, nos últimos capítulos. Tanto que até hoje, quando os machões de plantão ao serem perguntados se vêem novelas, eles respondem: “Só vi Roque Santeiro!”. Me enganem que eu gosto. Fiquemos um pouco mais com a matéria:

Em seu artigo Telenovelas e interpretações do Brasil, a pesquisadora Esther Hamburger, da Escola de Comunicação e Arte (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), explica que a temática das novelas nacionais, independentemente do canal em que foram exibidas, passaram por pelo menos três fases. A primeira, a partir de 1969, foi focada nos grandes desafios da urbanização vivida pelo país no período. O chamado “milagre econômico” teve na televisão um de seus maiores divulgadores. “Ao difundir narrativas que vinculam moda, decoração, aparelhos eletrônicos, carros e o hábito de viajar, a novela, além de turbinar vendas, possibilita que, via consumo, o espectador se sinta parte do universo narrativo”, escreve a especialista.

Nesse período, as novelas retratavam um Brasil “do futuro”, que crescia e se desenvolvia economicamente, mas que também avançava culturalmente. “As novelas da Rede Globo, a partir de 1969, registraram os dramas da urbanização, das diferenças sociais, da fragmentação da família, da liberalização das relações conjugais e dos padrões de consumo”, analisa Esther. Sobretudo na segunda metade dos anos 1980, a “novela lança moda e ensina o uso de novos produtos”, especialmente meios de comunicação e transporte. “Nessa vitrine eletrônica, temas polêmicos - como o orgasmo feminino ou, anos depois, a discriminação de cor e o beijo gay -ganham visibilidade, por meio da ação de personagens associados a certos objetos e estilos de vestir que sugerem uma certa ‘modernidade’”, explica.”

Quem não lembra do Milagre Econômico. Parece que eu estou vendo. As músicas do Antonio Carlos e Jocafi, o patriotismo de fancaria, enquanto as pessoas eram censuradas e mortas. Hoje tem uma novela do SBT que enfoca este assunto. Eu não vi, porque prefiro as novelas da Globo, mas, um dia fui lá e só vi um lado da coisa. Não vou mais. Hoje, como não há censura apesar das tentativas do PT de regulamentar a mídia, eu só me lembro daquela fase quando vejo a turma cantando o “Lula lá”. Mas vamos em frente com o Max, com a chegada do discurso político:

Com a redemocratização, a preocupação dos brasileiros com um velho problema nacional, a corrupção, ganhou espaço nas telas de tevê. Novelas como Roque Santeiro (1986) e Que rei sou eu? (1987) usaram cidades fictícias e histórias fantásticas para falar de política. Em outras situações, o discurso político contra a corrupção foi mais direto, como em Vale tudo (1988). “Até que ponto vale ser honesto no Brasil?” foi, segundo o autor, Gilberto Braga, a grande questão trazida pela narrativa.”

Não é atoa que o mesmo autor fez o Insensato Coração que comentamos antes (aqui ) e inclusive fizemos até uma enquete a respeito. Será que não estaria na hora de fazer um “remake” de Vale Tudo? Que fizesse a mesma pergunta? E a gente sempre pensa que andamos sempre prá frente. Sigamos:

Nesse período, a extinta Rede Manchete, para fazer um contraponto ao pessimismo generalizado dos folhetins, lança mão de um outro movimento que ocorria no Brasil: a interiorização. Nesse contexto, tramas como Pantanal (1990) apostavam no descobrimento de um Brasil diferente. Longe das grandes cidades do sudeste, um país do Pantanal, da Amazônia, do cerrado e de outras regiões do país ganhava importância. “A fauna, a flora e a família no lugar do consumismo moderno e liberado”, conta Esther Hamburger.

(continua no próximo capítulo, digo, postagem)

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